Caridade ou Estratégia: Os Motivos Ocultos por Trás das Doações Corporativas
- Francisco Alonso
- 9 de jun.
- 3 min de leitura

Desde os tempos antigos, doar era visto como um ato puramente caritativo — oferecer uma refeição, um pouco de dinheiro ou itens indesejados com a única intenção de ajudar o próximo, sem esperar nada em troca. Durante a Idade Média, as doações eram incentivadas por figuras eclesiásticas, como os bispos, como uma forma de “purificar” a alma de pecados como a ganância e o orgulho.
No entanto, com a evolução dos sistemas econômicos e o avanço da globalização, empresas atuando em ambientes cada vez mais competitivos passaram a enxergar as doações como uma ferramenta estratégica para se diferenciar. Como resultado, houve um aumento significativo nas contribuições corporativas para diversas instituições de caridade.

Mas será que isso significa que nos tornamos mais humildes? De certa forma, sim — a conscientização sobre diversas questões aumentou na sociedade, com causas como as mudanças climáticas, a fome no mundo e o apoio a crianças ganhando destaque. Atualmente, com o investimento das empresas em Responsabilidade Social Corporativa (RSC), muitas decidiram crescer por meio de financiamentos internos, criando instituições voltadas para diferentes temas, como é o caso da Ronald McDonald House Charities, voltada ao apoio infantil, com mais de 2 milhões de dólares doados para essa causa.

Por meio dessas ações filantrópicas, partidos políticos conseguem colaborar com empresas para atingir diferentes objetivos políticos, como os exemplos mencionados anteriormente neste artigo. No entanto, nem todas as decisões dessas empresas têm apenas um fundo filantrópico. Doar também tem um propósito estratégico, afinal, grandes quantias de dinheiro estão em jogo — trata-se do mesmo princípio de tomar a decisão certa em um investimento que a empresa deseja realizar.
Um artigo publicado pela Chicago Booth Review mostrou como as corporações utilizam doações para exercer influência política. As empresas gastam quase três vezes mais apoiando instituições de caridade com intenções políticas do que contribuindo diretamente com comitês de ação política (PACs), que distribuem dinheiro de doadores para apoiar candidatos. Essa contribuição indireta, portanto, é um exemplo claro de como a doação pode ser usada estrategicamente.

Outro motivo “estrategicamente calculado” para uma empresa fazer doações não é necessariamente se diferenciar no mercado, mas sim reduzir custos ao evitar impostos. Ao doar para instituições de caridade, as empresas conseguem diminuir sua renda tributável, aliviando suas obrigações financeiras com o governo. Essa estratégia é uma faca de dois gumes: por um lado, contribui com a sociedade, direcionando centenas de milhões de dólares para causas importantes ou grupos sub-representados. Embora isso possa parecer altruísta, também funciona como uma manobra estratégica para compensar passivos fiscais. Um exemplo notável foi quando a renomada empresa de câmeras GoPro doou 500 milhões de dólares à Woodman Foundation. Essa doação ajudou Nicholas Woodman, fundador da GoPro, a reduzir significativamente a alta carga tributária que enfrentava após o IPO da empresa em 2014.
Um princípio da filosofia contemporânea de Kant ilustra bem a ideia central deste artigo: ajudar os outros nem sempre é tão altruísta quanto parece. Às vezes, as pessoas oferecem ajuda não apenas por boa vontade, mas pela satisfação pessoal ou recompensa emocional que obtêm ao fazê-lo. Embora a ação em si beneficie alguém, a intenção por trás dela pode ser mais voltada ao próprio benefício do que se imagina.
Comentários